“Tudo que existe, tem vida”. Essas palavras se tornaram um mantra na mente dele, um reforço constante do entendimento recém adquirido. Mais importante do que isso, elas eram uma epifania, a chave para acessar todo um novo universo de conhecimento. E a epifania era motivo pelo qual ele estava aqui.
Nobambo encontrou conforto nas palavras enquanto cruzava lentamente a floresta de cogumelos gigantes do Pântano Zíngaro, cujos esporos reluziam em tons de verde e vermelho em meio à névoa da manhã. As pontes de madeira que se estendiam sobre as águas pantanosas rangiam conforme Nobambo as atravessava. Passados não mais que alguns momentos, ele chegou ao destino e vislumbrou a radiante base de um cogumelo muito maior do que os demais. Sobre o chapéu daquele fungo colossal, Telredor, o assentamento dos draeneis, aguardava a sua chegada.
Nobambo prosseguiu apreensivo, apoiando-se pesadamente na bengala e amaldiçoando a dor nas juntas à medida em que subia na plataforma que o carregaria ao topo. Estava preocupado, pois ainda não tinha certeza de como os demais reagiriam. Houve uma época em que a espécie dele sequer era autorizada a entrar nos assentamentos dos que não foram afetados.
“Eles simplesmente rirão de mim.”
O viajante inspirou profundamente o fresco e enevoado ar do pântano e pediu-lhe coragem para enfrentar o desafio por vir.
Quando a plataforma parou, Nobambo atravessou lentamente a entrada em arco, os pés arrastando-se pelos vários degraus até chegar à pequena praça do assentamento, onde a assembleia já havia se reunido.
Nobambo olhou os semblantes severos de vários draeneis que o encaravam com expressão de superioridade e desprezo.
Ele era, afinal de contas, um krokul, ou “degradado”.
Ser degradado significava ser excluído e vilipendiado. Não era correto nem justo, mas era a realidade que se impunha a ele. Muitos de seus irmãos e irmãs não afetados não conseguiam compreender como o declínio dos krokul pôde ocorrer e, no caso de Nobambo, como alguém tão talentoso e abençoado pela Luz poderia ter decaído a esse ponto.
Apesar de Nobambo não saber exatamente como isso aconteceu, ele sabia quando. O krokul se lembrava com espantosa clareza o momento exato que marcou o início da sua ruína pessoal.
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