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domingo, 15 de janeiro de 2012

Inteiro - Parte 2

Os céus choraram quando os orcs impuseram o cerco a Shattrath.

Havia muitos e longos meses que a chuva não agraciava as terras de Draenor mas, agora, quase que em protesto contra a batalha iminente, nuvens negras se aglomeravam no firmamento. A chuva começou a cair suavemente sobre a cidade e sobre o exército perante as muralhas até que, por fim, uma tempestade constante desabou enquanto ambos os lados observavam e esperavam.

“Deve haver mil deles”, Nobambo especulou soturnamente de seu refúgio no alto das muralhas internas. Para além dos muros externos, sombras espreitavam em meio às árvores iluminadas por tochas na Mata Terokkar. Tivessem os orcs planejado mais cuidadosamente, teriam desmatado as cercanias, mas, naqueles dias, os orcs davam pouca atenção a estratégia. Para eles, havia apenas a emoção da batalha e a gratificação imediata do derramamento de sangue.
Telmor havia caído, assim como Karabor e Farahlon. Muitas das outrora majestosas cidades dos draeneis jaziam em ruínas. Shattrath era tudo que restava.

Ao poucos, os orcs se posicionavam, o que fez Nobambo pensar em uma grande serpente que se prepara para o ataque... um ataque que, certamente, resultaria no fim dos defensores de Shattrath.

Não que devêssemos sobreviver, de qualquer forma.

Nobambo sabia bem que ele próprio e os demais que aqui haviam se reunido naquela noite estavam se lançando em sacrifício. Eram voluntários que ficariam para trás e lutariam uma última batalha. A inevitável derrota agradaria tanto os orcs que eles tomariam os draeneis por dizimados e extintos. Aqueles que buscaram refúgio em outro lugar sobreviveriam para lutar mais uma vez em um momento de maior equilíbrio entre as forças.

“Que assim seja, então. O meu espírito continuará vivo e se tornará um com a glória que é a Luz.”

Encorajado, Nobambo ergueu-se, forte e atlético, preparado para os eventos vindouros. A grossa cauda balançava ansiosamente enquanto ele distribuía o peso igualmente entre as pernas leoninas e firmava os cascos no chão talhado em pedra. Respirou fundo, apertando as mãos em torno do cabo do seu cristalino martelo abençoado pela Luz.

“Mas não irei pacificamente.”

Ele e os demais Vindicantes, os guerreiros sagrados da Luz, lutariam até o fim. Nobambo olhou para os lados e viu seus irmãos posicionados em intervalos ao longo da muralha. Assim como ele, eles permaneciam impassíveis e resolutos, já em paz com o destino que os aguardava.

Do lado de fora, as máquinas de guerra chegavam: catapultas, aríetes, balistas... Máquinas de cerco de toda espécie passavam brevemente pela luz das tochas. Os pesados aparatos estalavam perigosamente conforme se posicionavam diante das muralhas.

Tambores soaram – esporadicamente, de início, mas logo mais e mais intensos até que toda a floresta estava viva com o ritmo que começou suave como a chuva para, então, tomar as proporções de um trovão contínuo. Nobambo sussurrou uma prece, pedindo forças à Luz.

Havia muito movimento e barulho à frente, em meio às nuvens lamacentas que ecoavam o frenético rufar dos tambores lá embaixo. Por um segundo, Nobambo se perguntou se, quem sabe, a Luz responderia à sua prece com uma exibição de poder e fúria que erradicaria todo aquele selvagem exército com um único e magnífico golpe.

De fato, houve uma exibição, mas não dos poderes da Luz.

As nuvens trovejaram, rodopiaram e estouraram, rompidas por grandes projéteis flamejantes que rumavam à terra com velocidade meteórica e força de pulverizar ossos.

Um rugido ensurdecedor tomou os ouvidos de Nobambo quando um dos objetos passou perigosamente perto, destruindo escoras próximas e atingindo-o com os destroços arremessados. Como se estivesse aguardando esse sinal, a multidão avançou sobre a cidade, fazendo ressoar pela cidade gritos de guerra sanguinolentos com um único propósito:
destruir tudo pelo caminho.
A intensidade da chuva aumentava à medida que as muralhas mais externas ruíam por conta das gigantescas pedras lançadas pelas catapultas. Nobambo sabia que as muralhas exteriores não resistiriam. Elas foram construídas com certa pressa: as seções da parede estendidas sobre as depressões do solo do círculo externo foram adicionadas no ano anterior, uma defesa necessária devido ao constante extermínio daquele povo e à subsequente conclusão de que esta cidade seria a sua última fortaleza.

Vários ogros monstruosos avançaram para tentar romper uma parte da muralha já comprometida pelo impacto do ataque meteórico. Mais duas dessas feras gigantescas lançavam um enorme aríete contra os portões principais da cidade.

Os irmãos de Nobambo atacaram o inimigo seguidamente, mas, sempre que os draeneis abatiam um atacante, mais dois tomavam o seu lugar. A parede danificada começou a ruir completamente. Uma horda de orcs enlouquecidos vociferava contra os oponentes, atropelando uns aos outros em um torpor sedento de sangue.

Era chegado o momento. Nobambo ergueu o martelo aos céus, fechou os olhos e esvaziou os ouvidos da opressiva cacofonia da batalha. Sua mente se fez presente, e seu corpo foi encoberto pelo familiar calor da Luz. O martelo brilhou. O guerreiro focou suas intenções e direcionou seus poderes sagrados e purificadores sobre os ogros.

Um clarão ofuscante iluminou brevemente toda a batalha, acompanhado pelos urros dos orcs estupefatos pela Luz Sagrada que os transpassava e queimava, atordoando-os, silenciando-os e detendo-os por tempo suficiente para que vários guerreiros draeneis se concentrassem em derrubar um dos ogros gigantes.

O alívio momentâneo obtido por Nobambo foi atropelado pelo som de madeira sendo despedaçada: o último e bem-sucedido golpe do aríete contra os portões principais. O guerreiro assistiu aos defensores do Bairro Inferior avançarem sobre a massa de orcs e ogros e serem eliminados rapidamente. Nobambo pediu, mais uma vez, o auxílio da Luz, mas a oposição era, simplesmente, forte demais. Logo após curar um draenei ferido, viu o mesmo guerreiro enfrentar ataques brutais e repetidos passados apenas alguns segundos.

Mais ogros deslocaram-se para a parte enfraquecida da muralha externa e, agora, estavam conseguindo atravessar. Os defensores, em número muito menor, estavam cercados por todos os lados.

Os orcs estavam enlouquecidos, entorpecidos pela sede de sangue. À medida em que eles tomavam o círculo externo, Nobambo reparou nos olhos inimigos, brilhantes e acesos com uma fúria vermelha que era, ao mesmo tempo, hipnotizante e assustadora. Nobambo e os demais Vindicantes mudaram de tática, passando da cura para a purificação. Mais uma vez, a cidade foi banhada por um resplendor brilhante e levas de atacantes foram atingidas pela Luz. O brilho vermelho nos olhos inimigos diminuiu momentaneamente enquanto os orcs cambaleavam adiante para serem eliminados pelos guerreiros draeneis que restavam.

Crás!

A muralha tremeu, e os cascos de Nobambo deslizaram sobre a pedra molhada pela chuva. Ele se firmou e, ao olhar para baixo, viu um dos ogros golpeando a base da estrutura com uma clava do tamanho de uma árvore. Nobambo ergueu o martelo em direção aos céus e fechou os olhos, mas a concentração foi logo interrompida por outro ruído...

Crac-CABUM!

Dessa vez, não foi o ogro, mas uma explosão originada de algum lugar fora de alcance que tirou o equilíbrio do guerreiro. Nobambo rolou para o lado e percebeu, ao olhar por cima da muralha, que uma neblina fina e vermelha ondulava pelo Bairro Inferior adentro. Os poucos defensores que restavam começaram imediatamente a engasgar e vomitar. Todos caíram e muitos soltaram as armas. Os orcs bárbaros acabaram rapidamente com os guerreiros adoecidos e se deleitaram com a carnificina.

Quando o massacre terminou, eles olharam para cima, tomados pelo desejo fanático de despedaçar, membro a membro, os defensores da muralha. Muitos orcs subiram nas costas dos ogros em uma tentativa de escalar a superfície com mãos nuas. A agressão e ferocidade sem limites eram atordoantes. A névoa se espalhou por todo o Bairro Inferior e, agora, estava começando a subir, lentamente obscurecendo o caos abaixo.

Nobambo ouviu uma comoção atrás de si. Vários orcs que, de alguma forma, haviam conseguido transpassar as defesas do círculo interno, agora invadiam o nível superior.

Crás!

A muralha estremeceu novamente e Nobambo amaldiçoou o ogro lá embaixo, o qual, sem sombra de dúvida, voltou a se dedicar a golpear a estrutura. Uma segunda salva de projéteis caiu do céus enquanto Nobambo se preparava para enfrentar a nova leva de atacantes.

Ele direcionou a fúria da Luz diretamente para o primeiro orc. Os olhos da fera verde se turvaram, e ela tombou. Nobambo impingiu a cabeça cristalina do martelo diretamente sobre o crânio do orc, tornou a erguer o martelo e, dessa vez, atacou pela esquerda, sentindo, com satisfação, o esmagamento das costelas do orc. Com outro movimento, o martelo percorreu uma trajetória em arco para baixo e atingiu a perna do ogro pelo lado, despedaçando-lhe o joelho. A fera uivou de dor e caiu da muralha.

A neblina já havia chegado no nível superior, onde se espalhou e recobriu o chão como um tapete. Nobambo e seus colegas Vindicantes continuaram lutando enquanto a névoa subia, chegando, primeiro, na altura do peito para, então, cobrir-lhes o rosto – irritando os olhos e queimando-lhes os pulmões.

Nobambo ouvia os gritos dos companheiros moribundos mas não conseguia vê-los em meio à densa névoa vermelha. Felizmente, os ataques sofridos não o abateram. Ele cambaleou um passo para trás, tentando controlar a ânsia de vômito. A sensação era de que sua cabeça estava prestes a explodir.

De dentro da névoa, o guerreiro ouviu um horrível grito de batalha que o petrificou até os ossos.

Uma sombra se aproximou. Nobambo lutava para enxergar enquanto seu corpo se retorcia em espasmos. Ele tentava desesperadamente prender a respiração quanto, dentre a névoa, surgiu um horror tatuado e de olhos vermelhos... Um orc gigantesco coberto pelo singular sangue azul dos draeneis, arfando e girando um maléfico machado de duas mãos. O cabelo da cor dos corvos estava grudado no pescoço e nos ombros do bruto, ao passo que o maxilar fora pintado de preto muito escuro, dando ao rosto a aparência de uma caveira.

Atrás dele, ondas de orcs corriam para o nível superior. Nobambo sabia que o fim estava próximo.

Crás!

A muralha estremeceu uma vez mais. O orc, que parecia produto de um pesadelo, atacou. Nobambo se inclinou para trás. A lâmina inimiga abriu uma ferida profunda ao longo do peito do guerreiro, destruindo sua armadura e adormecendo-lhe o lado esquerdo. Nobambo respondeu com um golpe de martelo que esmagou os dedos da mão direita do orc, inutilizando-lhe o punho e o machado. Então, para horror de Nobambo, a criatura aterrorizante sorriu.

O orc o agarrou com a mão boa, as fornalhas de seus olhos fixas em Nobambo, perfurando-o.

Nobambo foi forçado a inspirar. Enquanto inalava a névoa, sentiu o verniz da sua vontade sendo-lhe arrancado. Era como se alguma forma de magia sombria e demoníaca estivesse atuando, como se uma parte de sua própria essência estivesse sendo obliterada... E contra esse ataque Nobambo não teve resposta.

Crás!

Nobambo vomitou sangue no rosto e no peito do orc. O guerreiro fechou os olhos e exasperadamente, desesperadamente, saudou a Luz, suplicando pela neutralização do orc por tempo suficiente para que pudesse se defender. Ele pediu ajuda...

Mas, pela primeira vez desde o primeiro contato com a Luz, desde quando foi agraciado pelo seu brilho...

Não houve resposta.

Aterrorizado, Nobambo abriu os olhos e encarou o olhar maníaco do orc. A criatura escancarou a bocarra e gritou, abafando todo e qualquer outro som, quase rompendo os tímpanos de Nobambo, que se sentia come se houvesse entrado em algum tipo de sonho terrível e silencioso. A fera se inclinou e cabeceou o rosto de Nobambo. O guerreiro tombou para trás com os braços agitados sob a tempestade inclemente, o olhar fixo nos olhos flamejantes do inimigo enquanto caía cada vez mais... mais, mais e mais por entre a neblina, até colidir contra algo grande que rugiu com o impacto do corpo do guerreiro.

Ainda aprisionado no pesadelo silencioso, Nobambo viu o orc desaparecer do alto da muralha. Próximo dali, a estrutura arruinada cedeu e derrubou uma enorme seção das muralhas superiores, bloqueando a chuva e o céu e aprisionando Nobambo em um mundo de escuridão silenciosa.

Enquanto estava ali, o guerreiro nos que se esconderam, aqueles que ele esperava que conseguissem escapar do massacre, aqueles que amava e respeitava, aqueles pelos quais ele deu a própria...

Vida. De alguma forma, ele ainda se atinha à vida.

Nobambo emergiu do fosso negro da inconsciência e viu-se aprisionado em um confinamento sufocante e cego. A respiração era custosa, mas ainda estava vivo. Ele não fazia ideia de quanto tempo havia passado desde... desde a queda da muralha, desde que...
Tentou se concentrar. Com certeza, durante o tumulto da batalha, ele simplesmente não conseguiu concentração suficiente para alcançar a Luz, mas agora, agora ele conseguiria fazer contato. Não havia dúvida de que conseguiria...

Nada.

Não houve resposta.

Nobambo nunca havia se sentido tão perdidamente só e sem esperança. Se a Luz estava fora de alcance, o que haveria de ser do seu espírito se morresse ali? Será que a Luz não o receberia? Estaria a essência dele condenada a uma eternidade de perambulação pelo vazio?
Levou uma vida honrada. Ainda assim... seria isso alguma espécie de punição?

Mesmo enquanto a mente procurava respostas, ele esticou a mão e, imediatamente, tateou a rocha fria. Aos poucos, foi percebendo que estava deitado em uma posição muito estranha, que uma massa tenra e grande estava imprensada a seu lado e que a perna esquerda estava certamente quebrada.

Nobambo rolou para a direita e respirou fundo, tentando ignorar a dor nas costelas e na perna. Sem poder recorrer à Luz, ele não tinha como se curar, então teria que conviver com a dor por ora. Ao menos a sensibilidade do lado esquerdo do corpo voltou. E... ele podia ouvir os ruídos abafados causados pelos seus movimentos, o que significava que a audição também estava normal.

Como conseguia respirar, isso significava que o ar o alcançava de algum lugar. À medida que os olhos se acostumavam à sombra, ele avistou uma pequena abertura, não de luz, mas apenas um tom de escuridão mais claro do que as trevas que o cercavam. Nobambo se esticou e alcançou, com a mão, um objeto cilíndrico familiar: a haste do seu martelo.

Com a pouca força que lhe restava, Nobambo agarrou o cabo e empurrou-o em direção à abertura. Alguns destroços dos entalhes cederam, revelando um vão estreito criado pelos gigantescos blocos de pedra que caíram.

Imediatamente, o guerreiro foi recebido pelo som de gritos abafados, lamentos de puro terror, vindos de certa distância. Usou o martelo para puxar a parte de cima do torso pelo buraco e para dentro do espaço restrito. Enquanto fazia isso, ouviu um gemido vindo das profundezas dos escombros.

Com uma explosão de força, Nobambo se puxou passagem adentro, contendo a vontade de gritar ao passar a perna quebrada pela quina serrilhada das pedras, o que fez doer todo o corpo. Os lamentos continuavam. As pedras que o cercavam se moviam, despejando areia e pó pelas rachaduras. O guerreiro se arrastou rapidamente em direção e um caminho irregular, onde uma luz fraquíssima era visível.

A julgar pelo volume do gemido entre os escombros, agora mais alto, Nobambo supôs que se tratava de um ogro tentando desesperadamente se soltar. O guerreiro ficou de costas e arrastou-se sobre os cotovelos até o ar noturno, enquanto o ogro fazia outro esforço para se soltar. Agora, Nobambo conseguia ver todo o monte de entulho. O ogro urrou enfurecido mais uma vez, e toda a pilha cedeu por completo, projetando uma nuvem de poeira em todas as direções e interrompendo abruptamente o grito.

Outro urro se seguiu imediatamente, mas agora de alguma distância, e acima deles: o som de uma fêmea aterrorizada.

Nobambo se virou e viu algo que jamais esqueceria, não importa o quanto tentasse, daquele dia em diante.

Todo Bairro Inferior, iluminado pela lua e por tochas, havia se tornado um depósito de cadáveres de draeneis. E, apesar de a chuva ter parado, as montanhas de corpos ainda estavam molhadas de vômito, sangue e toda espécie de detritos.

O coração de Nobambo retorceu-se ao identificar crianças em meio aos mortos. Apesar de jovens, muitas delas se ofereceram bravamente para ficar com os pais, pois os orcs desconfiariam de uma cidade draenei sem crianças e caçariam todas até a extinção. Uma parte de Nobambo torceu e rezou com toda a força para que essas crianças pudessem ser protegidas, para que elas ficassem seguras nos esconderijos apressadamente escavados nas montanhas. Uma esperança tola, ele bem sabia, mas se ateve a ela ainda assim.

Haveria algo mais desprovido de sentido do que a execução de crianças?

Mais uma vez, seus ouvidos foram atacados pelos gritos de uma fêmea, acompanhados por provocações e escárnio. Os orcs estavam celebrando, deleitando-se com a vitória. Ao olhar para cima, localizou a origem do ruído: bem acima, projetando-se sobre os Picos da barreira, os draeneis ergueram o Terraço dos Aldor. E lá estavam os orcs, torturando uma pobre draenaia.

“Tenho de detê-los.”

Mas como? Sozinho, com uma perna quebrada, um contra centenas... abandonado pela Luz, armado com nada além de um martelo. Como ele poderia dar um basta na loucura que ocorria lá em cima?

“Preciso descobrir uma forma!”

Exasperadamente, Nobambo engatinhou sobre os cadáveres, escorregando nos fluidos, ignorando o fedor pútrido e as vísceras expostas. Arrastou-se até o círculo externo do Bairro Inferior, em direção à base dos picos, onde a muralha encontrava a montanha. Ele encontraria alguma forma de escalar até lá. Ele encontraria...

A gritaria cessou. Nobambo olhou para cima e viu silhuetas à luz da lua que carregaram uma figura imóvel até a beira do mirante e a balançaram, atirando a massa sem vida às profundezas. O corpo aterrissou com um baque surdo não muito longe de onde Nobambo estava, paralisado.

O guerreiro prosseguiu, procurando qualquer sinal de vida da draenaia... “Shaka!”, percebeu ao chegar perto o bastante para distinguir os traços dela. Ele a vira muitas vezes antes, apesar de terem se falado em poucas e breves ocasiões. Sempre a achou encantadora. Agora, lá estava ela, surrada e machucada pelas agressões, a garganta cortada, exangue. Ao menos, o sofrimento dela havia acabado.

Outro grito veio de cima, a voz de outra fêmea. A raiva ferveu dentro do guerreiro. Raiva, frustração e um desejo incontrolável de vingança.

“Não podes fazer coisa alguma.”

Desesperadamente, Nobambo agarrou o martelo com força e tentou, mais uma vez, convocar a Luz. Com a ajuda de tal força, talvez fosse possível fazer alguma coisa, qualquer coisa... Mas, novamente, o silêncio foi a única resposta.

Algo dentro dele o impelia a sair de lá o mais rápido possível, a se esconder com os demais, a viver... para, um dia, cumprir um propósito maior.

“Isso é covardia. Preciso descobrir um jeito. Tenho que conseguir.”

Mas, no fundo, Nobambo sabia que a batalha havia terminado. Se, de fato, algum destino maior o aguardava, ele tinha que ir embora de imediato. Não conseguiria nada além de uma morte sem significado, se tentasse chegar ao topo. Gritos angustiados tornaram a dominar o ar da noite. Nobambo olhou para uma parte da muralha externa que estava parcialmente destruída. Era um obstáculo perigoso, mas não insuperável – e que não estava sendo vigiado.
“Esta é a hora. Faça tua escolha.”

Era uma oportunidade. Uma chance de viver e, algum dia, fazer a diferença mais uma vez.
“Tens de conseguir. Tu tens de continuar.”

Aquele longo gemido soou novamente mas, dessa vez, foi interrompido misericordiosamente. Então, o som das vozes de orcs, do outro lado da muralha interna, chegou a ele. Elas soavam como se estivessem vasculhando em meio aos cadáveres, em busca de algo ou alguém. O tempo havia acabado.

Nobambo pegou o martelo. Mesmo lhe custando tempo e esforço consideráveis e a pouca força que lhe restava, conseguir transpassar os corpos à frente e passou pelo vão na parede.
Enquanto cambaleava vagarosa e dolorosamente, para a Mata Terokkar, gritos femininos voltaram a retumbar no topo do Terraço dos Aldor.

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